Eu sempre achei que a gula estivesse relacionada exclusivamente com a comida. Por isso, quando me diziam “Dani, você é muito gulosa” eu discordava. Simplesmente porque não tenho compulsão por comer.
Eu sou uma pessoa que tem fome de vida. Ah! Isso eu tenho. Tenho dó de dormir porque acho que é perda de tempo. Tem tanta coisa bacana para se fazer que, para mim, passar oito horas estirada numa cama, inconsciente só pode ser classificado como desperdício.
Durante o dia eu trabalho, como todo mundo que não nasceu em berço de ouro. Todavia, passada a parte chata do dia, eu devo ir para casa, tomar banho, jantar e dormir? Nunca. Vou pra night com certeza, dançar, beber e paquerar muito.
Aliás, este é outro assunto que provoca nariz torcido nas minhas amigas. Eu tenho um namorado há 2 anos, o Guilherme. Um cara bonzinho, bonitinho, todo certinho e meio enfadonho. Eu gosto dele, gosto mesmo. Mas eu sou muita areia para o caminhão dele e nós dois sabemos disso. Então, muito embora a nossa relação não seja declaradamente aberta, no fundo ele sabe que eu pego outros caras por aí. Não preciso tomar sempre sorvete de chocolate se eu também amo sorvete de morango, de creme e de limão. Não é mesmo?
Eu tenho 32 anos, sei que esse meu pique não vai durar para sempre, tampouco o meu corpinho, por isso tenho que aproveitar tudo o que posso agora. A propósito, já estou sentindo o pesinho da idade. Na semana passada precisei dar uma turbinada nos ânimos, se é que vocês me entendem, para aguentar a terceira balada consecutiva. Nada demais, só dou um tapa de vez em quando.
Tem uma coisa que está me deixando um pouco tensa: sexo. Penso em sexo o dia inteiro, preciso transar todos os dias e ainda estou dando uns complementos pelo computador, num site bacana que me indicaram. Gula é um pecadinho que até se aplicaria nesse caso.
E, continuando a falar de gula, ontem no escritório fui novamente acusada de ser gulosa. Só porque não divido a barra de chocolate que como, religiosamente toda tarde, com ninguém. Não divido mesmo. É minha e sinto prazer em comê-la inteirinha, mesmo quando já estou um pouquinho empanturrada, é um ritual.
Ando meio ansiosa e já percebi que estou descontando na comida. Hoje de manhã comi 4 pãezinhos, ou melhor, todos que tinha em casa. Não sei o que me deu, não consegui parar de comer até ver o saquinho vazio. Sem contar que ontem à noite precisei jogar um vidro de doce de leite no lixo, que estava, aliás, pela metade. Certamente eu ia comer tudo. Que loucura isso!
Também perdi a mão com o meu “energético” de balada, usei a semana inteira. Mas é tão bom, dá uma baita energia. O duro é que depois dá uma caída e aí estou descontando no chocolate. Mas está tudo sob controle.
Comecei a sentir que as minhas roupas estavam meio apertadas, subi na balança e, caraca, engordei oito quilos! Preciso dar um tempo na comida, mas devo confessar que estou um tanto compulsiva. Vai passar, é muito estresse no trabalho, mas logo saio de férias e tudo volta ao normal.
Ontem o Guilherme terminou comigo. Alegou que eu estou fora de controle, comendo demais, me drogando demais, transando demais, pulando a cerca demais. Com efeito, acho que foi isso o que pegou, não tiro a razão dele. Eu não teria aguentado metade do que ele aguentou. Vou sentir muitas saudades dele,
No almoço eu comi até passar mal. Sério mesmo. Já estava satisfeita, mas acabei com tudo o que estava sobre a mesa, inclusive das sobras das minhas colegas de trabalho. Quando voltei para a minha sala comecei a suar frio e sentir náuseas e tontura. Fui para o banheiro e não consegui chegar até o vaso para vomitar, sujei minha roupa e o chão. Foi humilhante. Minha pressão caiu e quase desmaiei. Quando minha colega entrou no banheiro me viu deitada no chão, em cima do meu vômito, tendo calafrios. Fui levada de maca até o ambulatório onde me aplicaram um Plasil junto com um remédio para a pressão. Quando o médico foi falar comigo eu me sentia melhor do mal-estar, mas péssima na minha autoestima. Jamais imaginei chegar a este ponto.
O médico do trabalho me fez ver que eu estava sob o domínio do excesso e me indicou um psiquiatra e um grupo de apoio a pessoas que sofrem de transtorno compulsivo alimentar. Achei um exagero, mas ele me explicou que a gula leva ao tal transtorno. No começo é só a vontade de comer alguma coisinha a mais, depois vem a vontade de forma descontrolada. Como qualquer droga.
Fiquei de pensar. Mas lá no fundo eu sei que o médico está certo. Num curto espaço de tempo me transformei numa pessoa que eu não reconheço. Perdi meu namorado, corro o risco de perder o meu emprego, de perder a minha saúde e outras coisas mais, uma vez que perdi a mão de tudo.