Luxúria foi o meu pecado dominante entre os anos de 1998 e 2000. Posso dizer que neste período eu pirei na batatinha. Antes de me condenar, por favor veja do meu ponto de vista.
Meu nome é Gisela e em maio de 1998 meu mundo caiu. Eu estava casada há cinco anos, amava o meu marido e acreditava que era igualmente correspondida. Nosso casamento era baseado na confiança mútua, por isso não estranhei quando ele começou a viajar demais por conta do trabalho.
Um dia, recebi uma carta anônima, bem no estilo de novela mexicana. No bilhete estava escrito apenas a palavra “otária” e dentro do envelope, dezenas de fotos do meu marido com sua amante. Tinha foto dos dois em diversos lugares e ocasiões. Entretanto, o que mais me feriu, foi a foto de um almoço na casa dos meus sogros. Mais tarde, eu descobri que a fulana era fisioterapeuta do meu sogro, e que, portanto, ela deve ter usado de seu acesso à família para tornar comprometedor um evento sem importância. Aliás, jamais duvidei ter sido ela própria a autora da carta.
Eu não consigo descrever o que senti naquele dia. Era como se tivessem me matado. Eu não sentia nada, não chorava, não gritava, não me descabelava. Apenas um imenso e frio vazio foi penetrando nas minhas entranhas congelando as minhas emoções. Fui até o quarto, coloquei as roupas dele numa mala, troquei a roupa de cama e as tolhas, num gesto simbólico. Chamei um chaveiro para trocar a fechadura. A mala, eu pus no corredor. Tranquei o apartamento e sai de carro andando a esmo pela cidade, não sem antes desligar o celular. Decidi naquela noite dormir num hotel, pois eu tinha certeza que se eu voltasse para casa ele estaria me esperando.
O que se passou a seguir entre mim e ele eu não vou detalhar. Só posso dizer que caímos na vala comum das separações por traição, com situações clichês de ofensas trocadas e com direito a mesquinharia e muita baixaria.
Do torpor inicial, fui invadida por um enorme sentimento de vingança. Eu queria humilhá-lo publicamente e decidi, cega pelo ódio, que daria para todos os amigos e parentes dele. Eu queria que os outros homens comentassem como eu era bonita e gostosa. De maneira racional optei pela luxúria para agredir meu ex-marido.
Para aumentar a minha autoestima eu fiz uma lipoescultura, coloquei silicone nos seios e operei o nariz. Simultaneamente! Não tenho palavras para detalhar a dor do pós-operatório. Sem dúvida, essa foi a coisa mais idiota e ao mesmo tempo a mais sábia que fiz na vida. Pois, a dor física fortaleceu o meu desejo de vingança e, de certa forma, amenizou a dor do chifre. Foram seis meses difíceis, mas ao final deles a nova Gisele surgiu linda e poderosa.
Fui a caça. Comecei pelo melhor amigo dele, um cara do escritório que chamei para tomar um drinque e que em menos de duas horas já estava na minha cama. No início da madrugada o cara me deixou cheio de culpa e a mim com um sorriso de satisfação nos lábios. Depois foi o chefe dele que caiu na minha rede, depois o cunhado, depois um companheiro do pôquer e assim fui fechando o cerco em torno dele. Quanto mais eu transava, mais queria transar.
Só sei que no final de 2000 eu já havia expandido minha lista para fora do círculo do meu ex e vivia dominada pela luxúria, só pensava em sexo e nos prazeres que ele proporciona. Não sei dizer com quantos caras eu dormi neste período, porque com alguns eu dormi mais de uma vez e também porque parei de contar. Mas, posso afirmar que em dois anos eu transei mais do que em dez. Todavia, a busca pelo prazer instantâneo é ilusória, como qualquer droga. Depois da euforia, vem a depressão e o sentimento de vazio.
Minha ficha caiu no velório da minha ex-sogra, que fiz questão de ir. Ao lado do meu ex-marido estava a fulana fisioterapeuta, fazendo parte da família, consolando todos e comungando da mesma dor. Olhei em volta e talvez com exceção de alguns adolescentes e do padre, os homens que lá estavam eu conhecia intimamente. Me senti muito mal. Sobretudo, me senti suja e inadequada.
Percebi então que o meu desejo de vingança havia me transformado em quem eu não era. Por causa de um sentimento, que dá a falsa sensação de plenitude, eu congelara minha vida no momento em que recebi a tal carta e não me permiti seguir adiante.
Felizmente, acordei a tempo e hoje estou casada com um homem incrível, que me deu dois lindos filhos. Me arrependo muito daquele período tresloucado. Mas, eu me perdoei e me permiti seguir adiante.
Hoje, se alguém me pedir um conselho eu digo:
— Quem trai não merece nada, nem o seu ódio.