Eu nunca entendi muito bem estas pessoas que parecem ter vocação para o sacrifício. Fala sério, conheço um monte de gente que sacrificou sua juventude estudando e trabalhando ao mesmo tempo. Tenho amigas que na época do colégio pareciam os zumbis do The Walking Dead. Eu, não. Deus me livre. E não era por preguiça que eu não me esforçava mais, era por convicção mesmo.
Eu sou a Joyce, tenho 37 anos, sou mãe de dois adolescentes e dona de casa por opção. Para falar a verdade, eu nunca trabalhei fora. Quando eu terminei o colégio já estava namorando com o meu marido e deixei claro para todo mundo que não iria fazer faculdade. Se meus pais tivessem grana para pagar eu até teria feito, estudando de dia. Não era o caso e não me importei. Nunca foi meu sonho ter carreira profissional.
Até hoje eu não vejo vantagem na vida das minhas amigas que resolveram trabalhar fora. Em relação às tarefas domésticas elas fazem as mesmas coisas que eu faço, só que de noite e de final de semana. Ah, mas elas têm um emprego! Que legal, né? Pra mim, vantagem zero! Como elas trabalham fora e deixam os filhos e a casa meio de lado, se sentem culpadas e aí procuram recompensar ajudando os maridos nas despesas. No final das contas, elas têm menos coisas do que eu, que dou o meu jeitinho e faço meu marido comprar tudo o que eu quero. Eu sei que elas falam que não trabalho fora por preguiça, mas não me importo. Elas é que ainda não atingiram o meu grau de esperteza.
Há uns meses atrás meu marido perdeu o emprego e até hoje não conseguiu se recolocar. Tenho percebido que ele anda bem preocupado, mas eu não amoleço. Todos os dias faço questão de lembra-lo que o nosso dinheiro está acabando e que, portanto, ele precisa se empenhar mais. Deixo claro que não é justo nem comigo e nem com as crianças, baixarmos o nosso padrão de vida por causa dele. Outro dia ele me propôs abrirmos um negócio em conjunto, eu não dei resposta ainda. Mas, só de pensar em ter um compromisso diário me dá uma preguiça… Imagina eu não poder ter a liberdade de deitar no sofá a hora que eu quiser para assistir minhas séries? Deus me livre!
Eu não sei até quando conseguiremos manter a empregada aqui em casa. No que depender de mim vai ser uma das últimas coisas do que vou abrir mão. Uma coisinha ou outra eu já faço, mas segurar sozinha a limpeza, comida, roupa para lavar e passar. Tô fora.
Enfim, eu não tenho a menor vergonha em assumir que sinto uma preguiça danada toda vez que sou solicitada a trabalhar. Não acho que isso seja algum tipo de desvio de caráter. Com efeito, eu acho que tem gente que nasce forte, resistente às adversidades da vida e com muita disposição para o trabalho. Eu não sou assim, mas tenho minhas virtudes. Sou uma mãe dedicada, uma esposa carinhosa, uma filha respeitosa e uma amiga leal.
De qualquer forma, vou considerar a proposta de abrirmos um negócio. Quem sabe se eu me comprometer só com meio período no início, eu não acabe gostando de trabalhar.