7 Pecados Capitais - Soberba

A Soberba de Milena

Nunca tive paciência com pessoas lentas e, digamos, menos favorecidas intelectualmente. Eu sei que não é politicamente correto dizer estas coisas, logo te rotulam de metida, orgulhosa, arrogante. Minha avó dizia que o meu maior pecado era a soberba.

Sinceramente, considero uma hipocrisia você ter que fingir que não é inteligente somente para que os outros não se sintam intimidados ou humilhados pelo seu intelecto. Eu não sou assim.

Meu nome é Milena, eu sou professora universitária, dou aulas de matemática aplicada para turmas de engenharia. Confesso que o mundo acadêmico me atraiu não por uma vocação romanceada relativa ao ofício de ensinar. Nada disso, sinceramente acho uma chatice ficar repetindo o óbvio para alunos obtusos. Mas, este foi o caminho mais curto para eu encontrar pessoas que tivessem o mesmo desenvolvimento intelectual que eu, pessoas bem formadas, com PhD em suas áreas. Se a minha avó me ouvisse falar desta maneira diria, “cuidado com a soberba”.

A minha escolha profissional se mostrou acertada ao longo do tempo. Em terreno fértil me destaquei e, além disso, a universidade me deu a oportunidade de continuar meus estudos. Sou respeitada na minha área e, embora os alunos  não simpatizem comigo, sou muito requisitada como orientadora.

No ano passado orientei um aluno em sua tese. Sinceramente não sei porque ele me escolheu, sua antipatia por mim se manifestou logo no primeiro encontro. A princípio não dei muita atenção, nunca fui querida dos meus alunos, e pensei que se ele havia me escolhido era porque admirava meus conhecimentos, a despeito da sua opinião sobre a minha pessoa.

Eu não sei se ele fazia de propósito para me irritar ou se, de fato, ele é mesmo limitado. Diversas vezes me entregou rascunhos para eu ler ao invés de textos coerentes, além disso não seguia minhas orientações de pesquisa. Estabeleci objetivos e prazos  que ele não cumpriu, e por várias vezes, deixei claro que seria muito exigente quanto à qualidade do seu trabalho. Mas, o que ele queria é que eu respondesse a todas as suas perguntas.

Não preciso nem dizer que aquele período foi horrível. Nunca antes eu tinha orientado um aluno tão medíocre e, hoje sei, mal-intencionado.  Marquei a data da defesa da tese a ai sim ele pirou, travou de vez e seus textos eram cada vez mais rasos e incoerentes.

No dia da defesa, ele foi tão mal que não pude me abster de criticá-lo. O olhar que ele me dirigiu foi de puro ódio, tenho certeza de que se ele tivesse uma arma me mataria ali mesmo com um tiro na testa. Mas, o que ele fez foi pior.

Primeiro ele fez uma queixa formal contra mim na reitoria, depois começou a me difamar por todo o campus e, finalmente, começou a comprometer o nome da universidade alegando que nenhuma instituição minimamente séria manteria uma professora como eu em seu quadro. E como ele fez isso? Simples, colocou na internet.

O infeliz, criou um blog com o curioso título “eu odeio a minha orientadora” e neste blog listou o seu ponto de vista durante o processo de orientação, me expondo e expondo a instituição de forma irresponsável e vingativa. Entre outras coisas, ele me acusa de ser bipolar, de me considerar, não uma estrela, mas uma galáxia. Diz que eu só ficava satisfeita quando ele escrevia exatamente o que eu queria e que por isso ele foi mal na defesa, pois não acreditava no que estava escrito. Que cara de pau! Que eu o desrespeitava durante os encontros, insinuando que ele era burro. O que, na verdade ele é mesmo. Pior, ele me acusa de faltar com a ética ao criticá-lo durante a defesa da tese.

Bom, resumindo, esse blog faz muito sucesso. Com certeza porque ele representa tudo o que alunos preguiçosos e burros pensam sobre orientadores exigentes. Mas, meu reitor não entendeu desta forma. Numa reunião fez questão de deixar claro que minha reputação manchava o nome da instituição e que por isso eu deveria me afastar por um tempo do cotidiano da universidade. Mandou eu escolher um curso fora do país.

Me enfureci. Disse a ele com todas as letras que eu é que não queria mais ficar naquela universidade de bosta, que valorizava mais a opinião de um aluno retardado do que a capacidade acima da média de um professor. Sim, eu disse isso! Sai de lá batendo a porta e prometendo contratar um advogado para processar aluno e universidade por injúria e difamação.

No momento estou em busca de novas oportunidades. Não está fácil, mas eu tenho certeza que tudo vai dar certo. Se minha avó estivesse viva, estaria me dizendo:

— Eu avisei, cuidado com a soberba!