Mulher jovem executiva

Atena, a inteligente.

Um polpudo bônus, esta é a razão pela qual Atena não deixa, há 36 horas ininterruptas, o escritório da empresa  em que trabalha. O ambicioso projeto de fusão que coordena, juntamente com sua equipe, está na fase conclusiva e logo mais, no final da tarde, acontecerá a importantíssima reunião com os executivos da matriz alemã.

Toda a equipe demonstra sinais de cansaço. Não Atena, sua cabeça está a mil por hora, as ideias fervilham e sempre que confere a apresentação ela enxerga, para desespero dos demais, oportunidades de melhoria.  Assim é Atena, uma genuína worklover. Sua mente não para um só segundo, sua dedicação ao trabalho a tornaram diretora com apenas 29 anos. A equipe brinca, com certa dose de maldade, quem nem na lua de mel ela relaxou e deixou de preencher planilhas.

Marcelo, o marido, é tido pelos funcionários de Atena como um sujeito merecedor de pena. Um cara boa praça, bonito, que tem horários definidos e regulares.  Normalmente antes das 20 horas ele já está em casa, depois de um dia inteiro de trabalho e de bater ponto na academia que frequenta. Um cara normal, que janta sozinho todas as noites. A opinião é unânime: ele merecia ter se casado com uma mulher que lhe desse valor, não com Atena que valoriza acima de tudo seu trabalho.

Casada há dois anos, Atena bem que tentou nos primeiros meses ter uma vida mais disciplinada. Se programou para sair mais cedo do escritório, a principio funcionou, eles jantavam juntos e vez por outra ainda pegavam um cineminha. Mas isso foi só no começo. Em seguida surgiu a oportunidade dela liderar o projeto da tal fusão que veio acompanhado de um bônus de encher os olhos no caso, é claro, do cumprimento das metas.

O que, trocando em miúdos, significava executar as várias etapas em prazos inexequíveis. Atena sabia que seria difícil, mas não impossível. Aliás, impossível é uma palavra que não existe no dicionário dela.

Marcelo sonhava ser pai. Atena sonhava ser vice-presidente antes do 35. Certamente a equação não fechava. Como quase nunca estava em casa ela não percebia o tamanho da crise que se avizinhava. A perspectiva do bônus milionário, no seu ponto de vista, justificava qualquer sacrifício dela e do marido.

Faltando poucos minutos para o início da sua apresentação seu celular tocou, aborrecida ela viu que era Marcelo que a chamava. Chamada de voz! Nem para ser de texto. Na verdade, ela teve vontade de não o atender, com certeza era mais um mimimi dele reclamando que ela ainda não tinha ido para casa. Mas, para evitar que ele ficasse insistindo, ela resolveu atender a ligação de uma vez.

— Oi. — disse ela, secamente.

— Oi. — respondeu ele no mesmo tom.

Impaciente ela olhou para o alto e gesticulou, enquanto procurava minimizar a agressividade da voz.

— Oi, amor. Desculpa, eu não posso falar agora. Minha apresentação vai começar daqui a pouco, os gringos já estão na sala.  Lá pelas 10 eu estarei em casa e aí a gente conversa.

— É rapidinho. — disse ele se apressando, antes que ela desligasse. — Eu só liguei para te dizer que hoje é o dia mais feliz da minha vida…

— Hã… — resmungou ela ainda mais impaciente, olhando para o relógio.

— Eu queira te contar que hoje nasceu o meu filho.

— Oi? Você bebeu, Marcelo? — perguntou Atena, incrédula.

— Não. Mas ainda vou beber para comemorar. Você sabe que eu sempre quis ser pai, várias vezes eu tentei planejar um filho com você, mas mesmo quando você estava comigo, não estava presente. Durante suas longas ausências eu conheci uma garota, nos envolvemos, ela engravidou e hoje nasceu o João Victor, um meninão! Eu já tirei minhas coisas do apartamento e quando você terminar o projeto e finalmente conquistar o seu bônus, falamos sobre o divórcio. Fique bem.

Dito isto, ele desligou o telefone, deixando Atena embasbacada. Ela fitou por uns segundos o celular que segurava, como se dele pudesse sair mais alguma explicação. De repente, soltou uma sonora gargalhada.

— Que ótimo! — exclamou ela, pegando da mesa o seu laptop e saindo apressada em direção à sala de reuniões.

E, sacudindo os ombros, disse para si mesma antes de entrar.

— Nunca quis ser mãe, mesmo!

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