low carb

A dieta low carb.

Tati desliga o fogo e cuidadosamente retira da panela os dois ovos que estavam cozinhando há exatos 6 minutos, a saber, principal ingrediente de sua dieta low carb.

Em seguida, num prato de sobremesa ela coloca os ovos e se senta à mesa de frente para Fábio, seu marido, que segura um pão francês com uma das mãos e uma faca de serra com a outra.

Meio que hipnotizada ela observa o movimento de vai e vem da faca, cortando ao meio aquela massa crocante e sequinha. As casquinhas voam num balé mágico enquanto a faca prossegue fazendo o seu trabalho. A voz de Fábio a desperta do transe.

— Você não vai comer pão?

— Não. — responde Tati, olhando resignada para os ovos.

— Por que? Está quentinho ainda, acabei de chegar da padaria. Se eu fosse você, eu comeria. — recomenda Fábio, inconformado.

No momento em que Fábio diz a frase, Tati sente que o seu sangue começa a ferver. Por que esse idiota está insistindo com essa história do pão? Será que ele não prestou atenção em nenhuma das quinhentas vezes que ela lhe disse que estava fazendo uma dieta low carb? Aliás, pior, será que ele não a conhecia o suficiente para entender que para ela era uma tortura não comer um pãozinho quentinho no café da manhã?

— Porque eu estou reduzindo os carboidratos da minha dieta. Lembra? — diz Tati sorrindo enquanto se concentrava em descascar os ovos.

— Tati, Tati, já te falei que isso é besteira. Dieta low carb é uma bobagem. É só você malhar que essa barriguinha e esse culote desaparecem num piscar de olhos. É matemática, minha filha, você tem que gastar mais do que consome.

Tati sentiu que ia explodir de tanta raiva.

Mentalmente xingou Fábio com todos os palavrões que conhecia, se imaginou dando socos naquela cara de pau.

— Querido, eu não gosto quando você fala da minha barriguinha e do meu culote. Acho esse assunto muito desagradável e inconveniente.

Como Tati está orgulhosa de si mesma! Ter conseguido se controlar e responder calmamente, ao invés de mandar aquele babaca tomar naquele lugar, tinha sido muito superior. Com efeito, os exercícios diários de meditação estavam funcionando!

— Desculpa, eu não quis te ofender. Eu falo para o seu bem. Você já está perto dos cinquenta e o metabolismo fica mais lento, você sabe disso. Se não começar a malhar firme agora, vai ficar igual a sua tia Doralice.

Tati contou até mil. Não iria brigar.

Sim, ela estava perto dos cinquenta, certamente, o metabolismo já estava bem mais lento. Ela estava malhando há seis meses, feito uma condenada a trabalhos forçados, e só tinha perdido 200 gramas. Além disso, essa maldita dieta low carb a deixava irritada.

Como se não bastasse, as noites agora eram insones e calorentas. Seu humor viajava todos os dias num trenzinho de montanha russa e sua libido era igual ao do pinguim de louça que estava sobre a geladeira. Além disso, ainda tinha o seu emprego estressante, os filhos preguiçosos e a porra da casa pra cuidar.

Enquanto isso, Fábio estava rejuvenescido, mais forte e musculoso. Cheio de disposição, malhava todos os dias na academia e jogava futebol com os amigos duas vezes na semana. Comia feito um adolescente, sem engordar um grama sequer. Além disso, toda noite ele estava afim de jogo, e dá-lhe desculpas para reduzir o rala e rola para no máximo uma vez por semana. Isso era muito injusto.

Contudo, compará-la com a tia Doralice tinha sido muita sacanagem! A tia Doralice pesava uns 120 quilos, comia feito uma draga! O filho da puta, sem noção, tinha extrapolado todos os limites e agora iria pagar por isso.

— Você não me ofendeu, amor. — disse Tati com um sorriso meigo e um olhar maquiavélico, que Fábio, decerto, não percebeu. — Eu fechei um pacote na academia que inclui musculação, massagem, natação, nutricionista e mais algumas coisas que eu não me lembro…Caríssimo, mas Deus me livre de eu ficar igual a tia Doralice!

E fazendo um carinho na mão dele complementou:

— Ah! Paguei à vista com o seu cartão.

E com a boca cheia:

— Delícia esse ovo!!

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