Mulher madura segura de si

Hera, a controladora.

Hera havia nascido para comandar e não se constrangia em dar ordens a quem quer que fosse. Com toda a certeza, ela não se constrangia em determinar as “escolhas” de quem estivesse sob o seu controle, filhos, marido, parentes e  empregados. Todos se curvavam diante de sua vontade.

Embora nunca tivesse trabalhado fora, ela se orgulhava de ser a grande sócia do seu marido, um próspero empresário. Segundo ela, sem seus esforços e sem a mão firme que mantinha tudo no controle, ele jamais teria chegado onde chegou. E ela tinha razão.

Sem os talentos naturais de Hera para reunir pessoas importantes em jantares e recepções, seu marido muito provavelmente nunca teria fechado os contratos que fechou. Principalmente com o governo que, diga-se de passagem, lhe renderam muitos milhões de reais. Sem a sua vocação para promover bazares e leilões beneficentes, pessoas da tradicional alta sociedade jamais fariam parte do rol de amigos íntimos do casal.

Hera sabia transitar como ninguém no mundo dos poderosos. Tinha um faro mortal para detectar quem lhe poderia ser útil no caminho para a prosperidade. Seu carisma era natural, entretanto o seu poder de sedução era friamente calculado.

Fria também era a relação com os filhos, não que faltasse amor, o que faltava era afeto. Hera sempre, desde a primeira infância deles, fora uma mãe rígida, que impunha disciplina e cobrava resultado dos seus meninos.

Hoje, eram dois adultos de personalidade distintas: Artur, o mais velho, inseguro e hostil. Mauricio, o caçula, extrovertido e manipulador. Ambos bem formados e com um futuro brilhante pela frente. Ponto para Hera que, com sua mão de ferro conseguiu talhar dois vencedores. Assim pensava ela.

O tempo, no entanto, era a única variável sob o qual Hera não tinha controle. Por mais que seu rosto não aparentasse uma idade definida; ou que não lhe faltassem recursos materiais para comprar os mais novos e avançados tratamentos estéticos. Ainda que soubesse valorizar seus atributos físicos e que seu closet fosse recheado de roupas, sapatos, bolsas e acessórios que lhe conferiam a classe e a elegância que ela tanto valorizava. Era ali, no banheiro de sua suíte, que o sentimento de impotência ganhava força. Nua, ela examinava dia após dia os efeitos avassaladores da velhice no seu corpo.

Assim, desolada ela constatava que a sua pele não tinha mais o viço e a firmeza de antigamente. Suas mãos, apesar de todos os cuidados estavam flácidas e feias. Seu pescoço esguio precisava ser cuidadosamente escondido por golas altas e echarpes. E até suas pernas, outrora firmes e atraentes, precisavam agora de toda a sorte de artifícios e disfarces para serem exibidas.

Mesmo as joias, desde sempre sua grande paixão, tinham sido repensadas. Hera antigamente exigia que elas fossem caras e ostensivas, um símbolo de poder e riqueza que ela exibia para intimidar os incautos. Aos poucos , elas foram sendo substituídas por peças pequenas e discretas, com o objetivo de não chamar muito a atenção para as orelhas, mãos e colos.

Hera sabia que por mais que vencesse algumas batalhas, a guerra contra o tempo e seus efeitos nefastos estava perdida. Mas ela não era de perder ou se render. Jamais iria se submeter à vontade de alguém, fosse quem fosse. Era ela que tinha o controle de tudo nas mãos e assim seria até o final. Tudo já estava planejado, 60 anos seria a sua última idade. Numa festa impecável para 600 convidados, ela sairia de cena para sempre. Na memória de todos ela permaneceria linda, elegante, invejada e poderosa.

Veja também:

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