Mulher segurando dinheiro

Inês, a Avarenta

Avarenta, nome feio que se costuma, equivocadamente, dar a uma pessoa que prioriza a poupança aos gastos. Àquela que tem controle sobre seus impulsos de consumo e que gosta de ver seu patrimônio aumentar. Esta sou eu. Em contraste com o que diz o dicionário sobre avareza, eu não acumulo obsessivamente dinheiro e tampouco sou mesquinha. Portanto, discordo com veemência de quem me chama de avarenta.

Inês é meu nome, sou advogada, solteira, ganho bem e o que faço com o meu dinheiro não interessa a ninguém. Tirando meu fraco por sapatos eu sou uma pessoa muito controlada nas minhas finanças. Não faço loucuras de consumo. Como dizem por aí, dinheiro não aceita desaforo! Por isso, trato o meu muito bem.

Mas, parece que a pecha de avarenta grudou em mim. Quando me recuso a torrar o meu dinheiro com besteiras ou sair distribuindo-o com quem tem o hábito de esbanjar, pronto. Lá vem de novo a fama que me precede. As pessoas são implacáveis no julgamento. implacáveis e passionais pois sempre estão do lado que julgam “mais fraco”.

Só para ilustrar, vou contar o caso envolvendo minha família e que tem me colocado lado a lado com as mais cruéis bruxas das histórias infantis. A saber, minha irmã desde pequena é esbanjadora. Quando éramos criança, nosso pai nos dava uma pequena mesada. A primeira coisa que eu fazia era guardar meu dinheiro numa caixa e só depois, aos poucos, é que eu gastava parte dele com coisas que eu realmente queria. Nunca com balas e chicletes.

Minha irmã, pelo contrário, gastava tudo no mesmo dia, comprava um monte de besteiras que nem usava e, no intervalo entre uma mesada e outra, fazia meus pais pagarem por que mais ela quisesse. E, para o azar dela, eles não foram rígidos o suficiente, deixando ela acreditar que dinheiro cai do céu.

Assim ela cresceu. Não só desajuizada, como também perdulária. Depois que se formou e começou a ganhar bem, esbanjava com carrões, roupas e viagens caras. Vivia endividada, operando sempre no limite do seu orçamento. Quando perdeu o emprego, suas dívidas consumiram boa parte da indenização e serviram para financiar outros gastos claramente desnecessários. Contudo, surpreendentemente imprescindíveis para ela.

Os meses foram passando e minha irmã não conseguiu se recolocar no mercado. O dinheiro acabou, mas os gastos continuaram no cartão de crédito. O cartão foi suspenso, o cheque especial bloqueado. O carrão recém-comprado foi tomado pela financeira, o apartamento duplex que morava recebeu a visita do oficial de justiça com a ordem de despejo.  Em poucos meses, sua vida rolou ladeira abaixo.

Meus pais a acolheram dando casa e comida. No entanto, eles não podem financiar as outras despesas que ela tem e, por isso, querem que eu a ajude a quitar suas dívidas. Não apenas isso, querem que eu lhe dê uma mesada temporária para que ela possa se manter enquanto procura emprego.

Não dou! Podem me chamar de avarenta, de egoísta, de mesquinha, de desumana e de tudo o mais que eu sei que me chamam. Não estou nem aí. Já ofereci ajuda para ela montar um bazar para vender suas centenas de peças de roupa, todas de grife. As mais de 50 bolsas, também de grife. A coleção de relógios e uma infinidade bijuterias caras. Não aceitou, disse que se sentiria humilhada perante as amigas. Paciência.

Do meu dinheiro ela não verá a cor. Ele está muito bem onde está. Se multiplicando em fundos altamente rentáveis. Tenho controle sobre meus gastos e nunca vou chegar onde minha irmã chegou, disto eu tenho certeza. Só fico louca quando vejo na vitrine um par estonteante de sapatos, então eu compro e pago por ele o que me pedem. Mas, este é meu único deslize com dinheiro.

Me julguem.