A escritora Lygia Fagundes Telles que no início do mês de abril partiu para o andar de cima, foi, sem dúvidas, um verdadeiro exemplo de mulher tipo Atena.
Nascida na São Paulo dos anos 1920, desde cedo Lygia não se conformou com as restrições impostas às mulheres de sua época.
Em primeiro lugar, ingressou no curso de direito onde havia apenas 6 mulheres cursando. Formou-se em em 1946 pela Faculdade de Direito do Largo São Francisco, uma das mais tradicionais do país. Um feito e tanto para uma jovem da primeira metade do século XX.
No ano seguinte, Lygia casou-se. Em 1960 se separou do marido com quem teve um único filho. Uma ousadia e, certamente, uma clara demonstração da mente livre de uma Atena.
Como se não bastasse o escândalo da separação, em 1963, embora permanecesse legalmente casada, pois a lei não permitia o divórcio, ela uniu-se ao seu segundo marido.
Não é preciso dizer que Lygia teve que enfrentar com muita coragem a maledicência da sociedade da época.
Entretanto, o que faz de Lygia Fagundes Telles uma autêntica mulher Atena não é apenas sua coragem e tampouco seu espírito livre.
A deusa grega Atena é retratada como uma mulher forte, imponente e de olhar corajoso.
Do mesmo modo que a deusa Atena, Lygia era fascinada pela produção intelectual. Desde muito jovem se encantou pela literatura. Aos 20 anos publicou o seu primeiro livro.
Em 1954 publicou o seu primeiro romance Ciranda de Pedra, por duas vezes adaptado para a televisão.
Lygia conviveu com a intelectualidade pulsante da época, tais como Mario e Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral, Anita Mafalti, Hilda Hilst, Heitor Villa Lobos e Carlos Drummond de Andrade. Todos modernistas.
Ao mesmo tempo em que se dedicava à produção literária, Lygia trabalhou também como advogada, roteirista e contribuiu para alguns jornais da época. Atividades extremamente mentais, tal como a deusa Atena.
Respeitada no Brasil e lá fora, Lygia Fagundes Telles recebeu os mais relevantes prêmios nacionais e internacionais, sua obra é vasta – 04 romances, 20 livros de contos, além de crônicas, antologias e coletâneas. Além disso, foi a primeira e única escritora brasileira indicada ao Prêmio Nobel de Literatura.
Seus textos foram traduzidos para diversos idiomas e publicados em muitos países. Em outras palavras, um orgulho para os brasileiros. Por último, Lygia ocupava cadeira tanto na Academia Paulista quanto na Brasileira de Letras.
Definitivamente, se Atena é a divindade da sabedoria, da inteligência, do senso de justiça e das artes, certamente Lygia Fagundes Telles foi uma típica e exemplar filha dessa deusa.