Desde que o câncer entrou na minha vida, há quase um ano, escrevi muito pouco sobre ele. Não senti a menor vontade de ficar jogando luz sobre este invasor. Assim como, não achei que tinha nada mais de relevante a acrescentar diante da enormidade de blogs e testemunhos nas redes sociais, tanto de famosas quanto de anônimas que como eu, foram surpreendidas pela doença. É tudo mais ou menos igual a partir do momento que recebemos o diagnóstico.
Semelhantes também são os diferentes sentimentos e sensações que vamos experimentando ao longo do processo de cura. Quem está um pouco mais adiantada no tratamento, que mais parece a esteira de uma linha de montagem, vai dando não apenas dicas, como também consolando aquelas que vêm atrás.
Inegavelmente, estes são momentos preciosos que nos dão a sensação de não estarmos sozinhas e à deriva no oceano de medos e incertezas em que fomos mergulhadas.
Parar. Respirar. Não Pirar.
É muito normal depois que essa onda gigante passa, nos levantarmos para tentar recuperar os cacos e, quem sabe, retomar a vida de onde ela parou. Uma pausa para a reflexão neste ponto é fundamental. Para muitas talvez seja mais fácil se lembrar do câncer pelas coisas que ele levou. Eu prefiro pensar nas coisas que ele me trouxe. Por exemplo:
- A certeza de que preciso dominar minhas emoções ao invés de me deixar dominar por elas;
- O desafio de me irritar menos e tolerar mais;
- O hábito de uma alimentação saudável;
- O entendimento de que preciso me amar, acima de tudo;
- O reconhecimento de que o ócio é necessário;
- O saber que é relaxando que nos curamos, mas é nos estressando que adoecemos;
- O câncer me trouxe também o senso de urgência e a disciplina de não protelar .
- O entendimento de quão efêmera é a vida;
- A certeza de que o não dito vira mágoa e que a mágoa é como um ácido que corrói o corpo e a alma.
- Entendi que o amanhã ainda não chegou e que somente quando ele chegar eu vou me preocupar com o que precisará ser feito.
Enfim, o câncer me trouxe muitas coisas, muitos aprendizados. Isso não quer dizer que eu já coloquei todos em prática, ao contrário, é um exercício diário. A cada escorregada me dou um puxão de orelha. De leve, porque com o câncer também aprendi que me cobrar demais faz mal.
Veja também:
https://lotusrosa.com.br/ciranda-das-mulheres/