E esse hoje pode ter menos de 24h.
Primeiramente, não existe nada de novo nesta afirmação. Muito já foi dito sobre as incertezas do amanhã e a certeza da morte que, por sinal, chega de surpresa.
Esta frase, que mais parece de efeito, ganha um tom filosófico, nas tragédias. Sejam elas pessoais ou coletivas. E de tragédia coletiva, nós, pobres brasileiros, estamos à beira da saturação neste 2019. São tantas as perdas e tão sucessivas que mal estamos tendo tempo de lamentar os mortos de hoje. Desde o dia 25 de janeiro estamos sendo assolados por dramas que se sucedem e que a mídia explora à exaustão.
Assim, tristes e combalidos, voltamos a pensar no significado da frase título. O que significa só ter o hoje? Difícil dizer, pois o hoje pode ser justamente o dia da nossa despedida deste mundo que tanto pode acontecer ao meio–dia num acidente de helicóptero, quanto à noite, durante o sono num container.
Ter somente o dia de hoje, na minha opinião, não significa que devemos deixar de lado os planos para o futuro, ou tampouco, tentar satisfazer todos os nossos desejos num único dia. Contar somente com o hoje, significa focar no presente, não adiar, falar o que precisa ser dito, fazer o que precisa ser feito. É dormir sem pendências e assim ir vivendo um dia de cada vez.
Sem a data do vencimento
A vida é uma dádiva finita, porém não vem com data de validade. Não sabemos quando e nem como ela vai se expirar e talvez deva ser desta forma mesmo. Se diariamente, ao acordarmos, tivermos consciência que talvez não haja o dia de amanhã, daremos menos importância ao que de fato não tem importância nenhuma: uma fechada no trânsito, uma resposta malcriada, uma provocação banal.
Afinal, há tantas coisas relevantes para se fazer antes de dormir que nos prendermos às irrelevâncias parece pura perda de tempo.
Contudo, se pensarmos num horizonte de horas, veremos que, ao contrário do que parece, o dia é curto para fazermos tudo o que precisa ser feito: dizer que amamos quem amamos; sermos gentis com as pessoas, os animais, o planeta; ajudarmos quem está passando por necessidades; ouvirmos quem precisa desabafar; acolhermos num abraço quem está desalentado… Certamente, escolher ter uma ” agenda positiva” é a melhor decisão que podemos tomar todos os dias, assim que levantamos da cama.
Provavelmente, muitas destas pessoas que partiram deste mundo de forma tão abrupta gostariam de ter uma nova chance para fazer diferente, fazer melhor. Portanto, que suas mortes sirvam pelo menos para que a gente possa refletir sobre nossas escolhas perante a fragilidade e a imprevisibilidade da vida.
Estou tentando.
Muito bom e realista o texto. Nada à acrescentar e nada à retirar. Perfeito. É assim mesmo. Só confirmando uma grande verdade. Para morrer basta estar vivo. Abçs e um bom dia. Parabéns.
Que cada dia seja o único. Obrigada pelo comentário!
Excelente texto!!!!
Obrigada, Ellen.